Inventor de instrumentos musicais
Mestre Nado extrai do barro sonoridades que encantam leigos e especialistas, que disputam suas obras
Michelle de Assumpção
michelleassumpcao.pe@dabr.com.br
Michelle de Assumpção
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Quando era menino, Agnaldo da Silva gostava de brincar com o barro de uma olaria que ficava perto de sua casa. Com a massa fazia boizinhos e pequenas panelas de barro. A ligação com a terra foi se fortalecendo, desenvolvendo, e a profissão definiu-se logo cedo. Nado, como era chamado, passou a confeccionar quartinhas de barro. Na época em que geladeira ainda não existia na casa das pessoas mais pobres, Nado chegou a fazer uma centena de moringas por dia. As quartinhas correspondem a um quarto de uma moringa cheia d'água, daí o nome. Depois que as geladeiras chegaram, o utensílio bastante usado por todas as famílias perdeu seu valor. Mas aí Nado já tinha descoberto a bola oca. O oleiro chegou a trabalhar na oficina de cerâmica de Francisco Brennand, onde criava peças sólidas, de barro maciço, já com estilo próprio. O reconhecimento de Brennand pelo trabalho de Nado foi estimulante para que este embarcasse na busca por uma assinatura pessoal.
A bola oca éhoje o primeiro exercício que ensina aos seus alunos. Era a partir da bola que ele modelava a quartinha. Foi no meio desse processo que descobriu o som que poderia sair deste formato. Nascia a ocarina de Mestre Nado, cuja sonoridade foi sendo aperfeiçoada desde então, até resultar em instrumentos exclusivos. A ocarina não é invenção sua. Vem de uma família muito antiga de instrumentos e estima-se que possa ter até doze mil anos. De importância fundamental nas culturas chinesa e americana, eram feitas de cerâmica e, geralmente, no formato de pássaros ou outros animais.
Estudando formas de desenvolver a ocarina - cuja caixa de ressonância não permite sobreposições harmônicas, ou seja, há variação limitada de notas - Nado chegou à "Flauta Nado". Um instrumento curioso, esquisito, cuja sonoridade encanta pela maciez do som e extensão de notas. Uma descoberta foi levando a outra. E as pesquisas, a partir da experimentação de músicos que passaram a usar os instrumentos de Mestre Nado, foram conduzindo o artesão por novos estudos a fim de melhor extrair o som do barro. Nado especializou-se também no instrumento que batizou de bum dá-gua.
A peça emite um som grave, semelhante ao de um recipiente que se mergulha e depois retira da água, daí o nome. "Se não reelaborar, não anda, preciso ainda estudar e melhorar. Agora já consigo afinar a flauta com diapasão e tenho ocarinas com várias afinações", conta Nado. Presença disputada na Alameda dos Mestres, da Fenearte, ele recebeu durante a semana a visita de representantes da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que compraram um bum d'água.
Artesão experimenta as possibidades do som nas peças de sua autoria Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press |
Estudando formas de desenvolver a ocarina - cuja caixa de ressonância não permite sobreposições harmônicas, ou seja, há variação limitada de notas - Nado chegou à "Flauta Nado". Um instrumento curioso, esquisito, cuja sonoridade encanta pela maciez do som e extensão de notas. Uma descoberta foi levando a outra. E as pesquisas, a partir da experimentação de músicos que passaram a usar os instrumentos de Mestre Nado, foram conduzindo o artesão por novos estudos a fim de melhor extrair o som do barro. Nado especializou-se também no instrumento que batizou de bum dá-gua.
A peça emite um som grave, semelhante ao de um recipiente que se mergulha e depois retira da água, daí o nome. "Se não reelaborar, não anda, preciso ainda estudar e melhorar. Agora já consigo afinar a flauta com diapasão e tenho ocarinas com várias afinações", conta Nado. Presença disputada na Alameda dos Mestres, da Fenearte, ele recebeu durante a semana a visita de representantes da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que compraram um bum d'água.
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