Matéria no Diário de Pernambuco

sábado, 10 de julho de 2010.
Inventor de instrumentos musicais
Mestre Nado extrai do barro sonoridades que encantam leigos e especialistas, que disputam suas obras
Michelle de Assumpção
michelleassumpcao.pe@dabr.com.br

Quando era menino, Agnaldo da Silva gostava de brincar com o barro de uma olaria que ficava perto de sua casa. Com a massa fazia boizinhos e pequenas panelas de barro. A ligação com a terra foi se fortalecendo, desenvolvendo, e a profissão definiu-se logo cedo. Nado, como era chamado, passou a confeccionar quartinhas de barro. Na época em que geladeira ainda não existia na casa das pessoas mais pobres, Nado chegou a fazer uma centena de moringas por dia. As quartinhas correspondem a um quarto de uma moringa cheia d'água, daí o nome. Depois que as geladeiras chegaram, o utensílio bastante usado por todas as famílias perdeu seu valor. Mas aí Nado já tinha descoberto a bola oca. O oleiro chegou a trabalhar na oficina de cerâmica de Francisco Brennand, onde criava peças sólidas, de barro maciço, já com estilo próprio. O reconhecimento de Brennand pelo trabalho de Nado foi estimulante para que este embarcasse na busca por uma assinatura pessoal.


Artesão experimenta as possibidades do som nas peças de sua autoria Foto: Edvaldo Rodrigues/DP/D.A Press
A bola oca éhoje o primeiro exercício que ensina aos seus alunos. Era a partir da bola que ele modelava a quartinha. Foi no meio desse processo que descobriu o som que poderia sair deste formato. Nascia a ocarina de Mestre Nado, cuja sonoridade foi sendo aperfeiçoada desde então, até resultar em instrumentos exclusivos. A ocarina não é invenção sua. Vem de uma família muito antiga de instrumentos e estima-se que possa ter até doze mil anos. De importância fundamental nas culturas chinesa e americana, eram feitas de cerâmica e, geralmente, no formato de pássaros ou outros animais.

Estudando formas de desenvolver a ocarina - cuja caixa de ressonância não permite sobreposições harmônicas, ou seja, há variação limitada de notas - Nado chegou à "Flauta Nado". Um instrumento curioso, esquisito, cuja sonoridade encanta pela maciez do som e extensão de notas. Uma descoberta foi levando a outra. E as pesquisas, a partir da experimentação de músicos que passaram a usar os instrumentos de Mestre Nado, foram conduzindo o artesão por novos estudos a fim de melhor extrair o som do barro. Nado especializou-se também no instrumento que batizou de bum dá-gua.

A peça emite um som grave, semelhante ao de um recipiente que se mergulha e depois retira da água, daí o nome. "Se não reelaborar, não anda, preciso ainda estudar e melhorar. Agora já consigo afinar a flauta com diapasão e tenho ocarinas com várias afinações", conta Nado. Presença disputada na Alameda dos Mestres, da Fenearte, ele recebeu durante a semana a visita de representantes da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que compraram um bum d'água. 


Capa do dia 08/07/2010 da editoria de Viver

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